Em nome da segurança e comodidade, as grandes montadoras investem cada vez mais no desenvolvimento de seus automóveis, para facilitar a vida de seus consumidores. Chegou-se ao ponto em que dirigir um carro, hoje em dia, mais parece um ato de jogar vídeo game, devido aos extensos recursos tecnológicos que controlam e automatizam os sistemas do veículo.
Mas houve uma época em que o prazer ao dirigir era um item levado em conta. Coisas como acionar o pedal da embreagem e a alavanca de marchas, ao mesmo tempo, não eram consideradas apenas contingências do ato, e sim a possibilidade de maior interação com a máquina. Acrescente um volante de madeira e uma capota reclinada e será possível começar a entender o que é guiar um MP Lafer.
Seu longo capô assusta um pouco no começo, porém, o que impressiona mesmo, é aquela necessidade súbita de demonstrar sua gentileza no trânsito - oferecendo a preferência num cruzamento com mais assiduidade, ou insistindo para abrir a porta da passageira que lhe acompanha, por exemplo. Trata-se de um carro inspirador que, definitivamente, não combina com motoristas sisudos.
Percival Lafer idealizou o MP sobre o conjunto mecânico do Volkswagen Fusca, tendo moldado sua carroceria, em fibra de vidro, a partir do clássico inglês MG TD 1952. O motor refrigerado a ar ficou na traseira, embora a grade frontal do radiador tenha sido mantida. Isso provocou certas ressalvas nos especialistas, mas o fato é que o MP sempre foi muito bem aceito pelo público em geral.
Algumas inovações foram introduzidas em relação ao conversível de origem, como a substituição das portas suicidas pelo sistema de abertura convencional, e a adoção de janelas laterais de vidro, no lugar das cortinas de plástico abotoáveis. O espaço interior também ficou mais generoso, tornando a posição do motorista mais confortável. Em termos de velocidade final, são muito semelhantes, embora este não seja o ponto forte de ambos.
Entre 1974 e 1988 foram produzidas cerca de 4300 unidades na fábrica de São Bernardo do Campo. No final de 1977 surgiu a versão Ti, direcionada a um público mais jovem. Neste caso os cromados foram excluídos e os pára-choques modificados. Coincidência ou não, o Ti se adequou melhor às normas rigorosas do mercado norte americano, para onde o MP era exportado.
O grande diferencial é a única porta na frente do veículo e o cabo do volante que se dobra. O motor transversal tem dimensões enxutas e o modelo oferece um único banco como opção de assento. A velocidade máxima, em linha reta, é de até 85 km/h no veículo que possui quatro marchas e uma ré. O motor tem um cilindro com 300 cilindradas, uso de uma vela de ignição e bateria para alimentação elétrica.
Além dos Estados Unidos, países como Canadá, França, Itália e Japão também importaram MPs. Até o cinema recorreu ao “roadster” quando James Bond, na pele de Roger Moore, passou pelo Rio de Janeiro. O filme de 1979 - 007 Contra o Foguete da Morte - mostra uma espiã brasileira guiando um Lafer branco, seguindo o agente secreto pelas avenidas cariocas.
Fontes: www.mplafer.net/2007/06/liberdade-em-verso-brasileira.html "Artigo de Jean Tosetto publicado originalmente na Revista Clássicos Automotivos 79, em junho de 2004".